Conversamos um pouquinho sobre sua trajetória no mundo dos acessórios e como funciona todo o seu processo criativo.
Se tem duas coisas que essa menina tem de sobra, com certeza é talento e força de vontade!
Nascida no Brasil e morando atualmente em San Francisco, California, Isabel Quintão largou sua profissão na área de Marketing para seguir o grande sonho de ser uma designer de acessórios.
Tivemos a oportunidade de conversar um pouquinho com a artista e entender como toda essa mudança aconteceu. Não é fácil largar uma profissão de 10 anos para seguir um sonho em uma área completamente diferente, né?! É preciso ter muita garra!
Isabel atualmente cursa seu mestrado em Design de Sapatos e Bolsa e, mesmo não tendo se graduado ainda, já expôs suas criações em festivais da faculdade e possui um catálogo de criações de arrepiar. Queremos todas as peças pra ontem!
1) Nos conte um pouquinho sobre você e seu background!
Eu sou mineira, de Belo Horizonte. Sou formada em Relações Públicas e pós-graduada em Gestão Estratégica de Marketing. Trabalhei por 10 anos em marketing para startups de tecnologia/financeiras e hoje faço mestrado em Design de Sapatos e Bolsas.
Quando criança, eu sempre gostei das roupas e acessórios mais coloridos e diferentes. Eu adorava vestir as roupas das minhas bonecas exatamente porque elas eram bem diferentes! Eu também amava fazer roupinhas para elas usando a máquina de costura da minha avó, e eu fazia umas bonecas de porcelana e lã (as lãs eram sempre as mais coloridas, haha!).
Quando eu tinha uns 12 anos, um amigo que é artista plástico e pintor me deu de aniversário um livro do Monet, e foi a primeira vez que lembro de ter tido contato com arte. Passei as férias inteiras de Julho vidrada nesse livro!
Eu tenho muitas memórias das páginas e pinturas e acho que tudo isso fez com que eu procurasse a moda como profissão.
2) O que te fez escolher a área de design de sapatos?
Ainda no Brasil, eu percebi que estava cansada de trabalhar com Marketing, minha profissão por 10 anos. E foi aí que comecei a procurar alguns cursos voltados para moda.
Em Belo Horizonte, estudei algumas matérias na Escola de Moda Denise Aguiar e foi lá que percebi que era realmente o que eu queria fazer. Quando mudamos pra Londres, eu tive a oportunidade de fazer algumas matérias na Central Saint Martins e na London College of Fashion e uma das matérias que escolhi foi de design de bolsas.
Quando mudamos pra San Francisco, a Academy of Art me informou que ia abrir o mestrado de Design de Sapatos e Bolsas e me convidou para aplicar.
Um fato curioso é que eu fiquei muito mais interessada em aprender a fazer bolsas do que pela pela parte do design de sapatos em si, mas quando começamos as matérias de design e de construção dos sapatos, eu me apaixonei! Hoje, gosto mais de fazer sapatos do que de fazer bolsas, apesar de amar ambos.
3) Como é o seu processo criativo? Como que funciona, quais são os primeiros passos?
Eu ainda tenho desenvolvido muito o meu processo criativo. Antes, eu criava meus designs um pouco sem rumo, de acordo com a silhueta que o professor pedia nos trabalhos. Aí eu ia pesquisar no WGSN (ferramenta de tendência de moda), Instagram, Pinterest etc.
Depois que eu tive a aula de Desenvolvimento de Conceito, meu processo mudou completamente! Hoje, eu faço primeiro um mind map, como se fosse um brain storm, de palavras relacionadas ao conceito. Em seguida, faço pesquisas em cima dessas palavras (nesse momento, as pesquisas não são nada relacionadas aos sapatos e bolsas, e sim apenas às palavras). a seguir, faço pesquisa de tendência de moda e aí sim entra a parte de pesquisar os sapatos e bolsas.
Enquanto eu faço essas pesquisas, já vou desenhando algumas coisas, mas ainda nada muito relacionado aos produtos em sim, e sim coisas que me chamaram atenção nas pesquisas das palavras. Depois eu faço um mood board e eu começo a criar os desenhos dos produtos. Dessa forma, a coleção fica muito mais consistente e com a minha identidade.
4) Seus designs são extremamente únicos! Quais são suas maiores inspirações na hora de desenvolvê-los?
Obrigada! Como eu ainda estou na faculdade, geralmente o professor escolhe em torno de 4-5 modelos que a gente tem que seguir, pois a ideia é ele ensinar algumas construções específicas. Aí criamos em cima desses modelos padrões.
Por exemplo, vamos supor que ele escolheu a bota Chelsea. Eu posso criar a voontade, mas precisa ser baseado nesse modelo. Para me inspirar, normalmente eu busco alguns designers que gosto muito: Natacha Marro (ela inclusive tem alguns sapatos expostos no Victoria and Albert Museum em Londres), Gasoline Glamour (eles já fizeram alguns sapatos para a Lady Gaga), Paolina Russo, Nicholas Kirkwood e vários outros! Eu adoro ler os relatórios de tendência do WGSN.
E, ah, eu amo ir em exposições e trade shows para ver as novidades!
5) Seu trabalho é extremamente hands-on. Como a era de home office está afetando no seu dia-a-dia profissional?
Semestre passado eu tive que cancelar uma matéria porque eu precisava usar em tempo integral o estúdio da universidade – Esses estúdios são onde eu tenho acesso às máquinas industriais para couro, as máquinas de lixar e de acoplar as solas, entre outros equipamentos que são extremamente necessários para fazer os sapatos e as bolsas. Por conta disso, eu vou ter que atrasar um semestre para me formar pois vou precisar fazer essa matéria novamente. Porém, também tenho algumas matérias que são mais teóricas e sobre conceito, e elas estão funcionando perfeitamente online!
Está bem difícil comprar materiais para produção porque eu preciso receber os mostruários, decidir o que eu quero e solicitar. E bem, por conta da pandemia, os serviços de entrega estão lentos (Alguns não estão nem funcionando).
6) Você se lembra do seu primeiro design?
Lembro sim! Foi o primeiro sapato que fiz na universidade e foi uma surpresa para o meu marido, haha!
Era um slip-on de couro preto craquelado, bem macio, com a sola verde neon que eu pintei a mão! Esse sapato faz muito sucesso quando a gente vai para a balada 🙂
7) Qual o modelo que leva mais tempo para fazer?
Isso depende muito da complexidade do design, então não tem um modelo específico que seria mais ou menos difícil se pensar na questão do design.
Agora, se pensarmos em um modelo básico, eu diria que a bota masculina leva mais tempo. Eu já fiz um sapato masculino e, por ser maior, eu gastei mais tempo do que o restante da sala para fazer, pois eu precisei martelar muito mais pregos. E martelei muitos dedos também!
8) Nos conte o dia a dia de um estudante da sua área!
Como o meu curso é de design e de construção dos produtos, a gente precisa distribuir nosso tempo de forma muito bem pensada para conseguir entregar os trabalhos em dia. Então quando o professor pede para fazermos um modelo específico, o cronograma envolve fazer o mind map, pesquisas, mood board, escolha de materiais, desenhos, comprar os materiais, as fôrmas e solas para os sapatos, fazer a modelagem, cortar os materiais e começar a costurar, martelar o sapato na forma, lixar e colocar a sola e finalizar.
Como meu professor gosta de dizer, é importante termos pelo menos dois projetos ao mesmo tempo, porque enquanto alguma coisa está secando, você trabalha em outro projeto e não perde tempo.
O nosso dia a dia é bem cheio e tem que ser bem planejado, pois se um material não chega, a gente não consegue entregar o trabalho em dia. As fôrmas, por exemplo, eu compro do México. Os materiais, da Itália, França ou Coréia do Sul. Então, se eu não sigo meu planejamento a risca, tudo atrasa. Muitas vezes eu chego no estúdio às 9h e saio às 21h, pois é tudo manual, mas eu gosto tanto que nem vejo o tempo passar!
Mas aí quando chego em casa ainda tenho que trabalhar nas pesquisas e na criação dos designs dos próximos projetos.
9) Conte pra gente um pouquinho sobre no que você está trabalhando agora!
Agora eu estou de férias e decidi não fazer o semestre do verão porque as aulas ainda são online e eu prefiro presencial, principalmente pela necessidade de usar o estúdio. Por conta disso, eu volto para a universidade apenas em Setembro, provavelmente naquele esquema de “uma semana de aula presencial, duas semanas de aula em casa“.
Mas ainda não tem nada definido, né?!
De qualquer forma minha professora, que tem sido minha mentora em muitas coisas, me pediu para eu criar uma coleção nas férias para alguma marca que eu gosto, assim eu teria mais coleções no meu portfólio, então após tirar esse mês de Junho para descansar e ter um tempo pra mim, estarei começando toda a parte do mind map e pesquisa.
Em paralelo, semana que vem vou costurar uma bolsa de uma silhueta nova que ela me ensinou. E ah, eu quero muito fazer umas lingeries, mas de hobby mesmo! Esse último é ainda apenas um desejo 😛
10) Qual foi o processo de escolher sua identidade e os elementos da sua marca?
Esse ainda é um processo que eu estou trabalhando durante as aulas. Semestre que vem eu vou fazer uma matéria sobre empreendedorismo para definir melhor a minha identidade como marca.
Eu sinto que eu tenho uma identidade, mas acho que essa sou eu como designer pois essa parte da identidade nunca foi algo muito pensado profissionalmente. Por isso, agora, eu quero focar em formar com uma identidade definida corretamente.
11) Um conselho para quem sonha em seguir essa área.
Eu aconselho fazer algum curso, mesmo que online, para entender como são feitos os sapatos e as bolsas. Isso é muito importante para qualquer designer porque mesmo que não seja você colocando a mão na massa para fazer as modelagens e produzi-los, é importante saber o que é possível ou não fazer. Não foque apenas no design e sim, saiba um pouquinho de cada parte do processo. Isso fará com que você aprimore muito como designer!
12) Projetos futuros? Próximos passos?
Eu quero muito abrir a minha própria marca! Estou focando em matérias que vão me preparar para isso, como empreendedorismo e gestão.
O principal é ter coleções para poder começar a vender e divulgar o meu trabalho, né?! Mas com o mestrado rolando eu ainda não tive esse tempo. Fazer os produtos manualmente leva muito tempo e eu passo várias horas por dia no estúdio para fazer uma peça.
Você pode encontrar toda a coleção de Bell em seu site, Bell Quintão.
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